quinta-feira, 31 de março de 2011

Carreiras: BADLANDER (Beduíno)

 
  
A vida é dura aqui, mas nós somos mais duros. A única esperança aqui é o sonho de deixar essas rochas para trás.

Os Beduínos (Badlanders), como o nome sugere, vivem nas Badlands (Desertos Rochosos) das Border Princes (Principados Distantes). Essas áreas costumam ser labirintos de rochas e pedregulhos, contendo pouco ou nenhuma água e pouca vida. E a vida que há, é intragável na melhor das hipóteses ou hostis na pior das hipóteses. Eles tem de viajar constantemente pela área ao redor para encontrar comida e água, o que faz com que eles consigam se esconder com facilidade. Um imenso número de Beduínos possuem carreiras prévias das quais eles estão se escondendo; aqueles que não se escondem, tendem a sonhar em fazer algo pelo que valha a pena se esconder.

 
Encontrando perdão nos Desertos Rochosos
Os Desertos Rochosos oferecem uma vida de inacreditável dificuldade comparada com a vida no Império. Vivendo em viagens através de um terreno tão difícil, força os nativos a se tornarem caçadores e coletores de qualquer potencial fonte de água ou comida. Se no Império, os Errantes podem vasculhar facilmente as florestas, os Beduínos devem vasculhar rocha áspera e ravinas para encontrar plantas comestíveis escondidas ou fontes de água ocultas. Por causa dessas dificuldades, suportar os Desertos Rochosos costuma ser um castigo adequado para aqueles que estão sendo punidos por desagradar um deus. A distância que o sentenciado deve percorrer depende da transgressão, embora a sentença típica seja "seus anos em dias, para provar que sua devoção supera sua maturidade." Muitos penitentes morrem nos Desertos Rochosos antes de completar sua constrição, devido a sua inabilidade em encontrar facilmente comida, água ou abrigo (ou porque acabam se defrontando com algum Beduíno nativo). Há também muitas pessoas que se exilam nos Desertos Rochosos para se esconderem das consequências de suas ações passadas.

Quem pode se transformar num Beduíno?
Career Entries: Anchorite (Anacoreta), Peasant (Camponês), Vagabond (Errante)


O que posso me tornar depois de ser um Beduíno?
Career Exits: Cat Burglar (Gatuno), Vagabond (Errante)

quarta-feira, 30 de março de 2011

UNIDADES DE COMBATE - CONDADOS VAMPÍRICOS: Zombie Horde

 
Horda de Zumbis

Zumbis são cadáveres de mortos reanimados pelo poder do Dhar, a magia negra. Através do Velho Mundo e além, fontes aleatórias de Magia Negra podem animar aqueles que foram enterrados em suas tumbas. Em tais lugares, hordas cambaleantes de tais criaturas se movem para aterrorizar os vivos. Conhecidos por vários nomes, como  Zombiyes, Zhombis, Andarilhos mortos e bonecos cadáveres, por diferentes povos, eles podem ser considerados uma espécie menos poderosa de mortos vivos. Uma milícia local ou um grupo de caçadores de bruxas pode destruir facilmente um pequeno grupo deles. Eles são péssimos lutadores e não tem nenhum tipo de coordenação ou força, e seus corpos podres podem ser facilmente partidos ou esmagados.
No entanto, uma horda de zumbi pode ser facilmente mantida pela necromancia. Quando um necromante levanta uma grande horda, ela se torna uma grande ameaça. Seu número parece não acabar nunca e eles avançam sem medo, sem parar, sem se importar com a dor ou ferimentos, movendo-se mesmo se partidos ao meio.
Alguns Vampiros ou Necromancers usavam as hordas para enfraquecer ou aterrorizar os inimigos antes de enviar regimentos mais mortais de guerreiros mortos-vivos.
A carne de um zumbi é ressecada, podre, fedorenta, repleta de vermes e parasitas. Sua pele é despregada, como tiras, revelando músculos secos, corações parados e artérias sem sangue correndo. Muitos zumbis são híbridos estranhos de carne e outros materiais, tendo seus corpos fortalecidos com madeira e metal, enrolados em ossos de outras criaturas e presos juntos com pregos enferrujados. Uma luz terrível brilha nos olhos putrefato dos zumbis, fazendo com eles tenham um único propósito: matar e devorar todas as coisas vivas.
Lentos e sem mente, um único zumbi não representa ameaça efetiva para guerreiros treinados. Entretanto, uma horda, os Zumbis consequentemente irão subjugar mesmo os mais duros e experientes soldados. Somente os mais bravos mortais podem resistir a eles. A maioria foge mais cedo ou mais tarde, ao perceberem que a quantidade de zumbis nunca diminui.

Detalhes:
Uma horda nunca persegue ou corre. No entanto, também nunca foge. A luta só termina até que o último zumbi tenha seu crânio destruído ou o corpo completamente incapacitado.



Rumores sobre Zumbis
 
"Matar um Sylvaniano pela primeira vez, já não é tão fácil - mas enfrentar seus corpos reanimados é ainda pior. Se você puder, tente matar o necromancer ou o vampiro antes que ele os reanime. Mesmo que você não consiga matá-lo rapidamente, é uma boa idéia manter ele sob pressão, isso normalmente costuma fazer os corpos reanimados caírem sem vida novamente, enquanto ele perde o foco. De qualquer forma... bem, eu não sou a favor da fuga, pois se alguns de vocês fugirem e correrem, podem estar assinando a sentença de morte do regimento inteiro; mas raramente é uma decisão vitoriosa enfrentar uma legião de zumbis em combate fechado. Se você puder, ataque-os a distância, com armas de projéteis - se tiver mecanismos de guerra, melhor ainda. Lembre-se que os Sylvanianos não morrem tão facilmente pela segunda vez."
Capitão Schultz, Comandante Mercenário falando sobre uma guerra contra um Vampiro da Sylvania e seus exércitos
 
"Eu sofri mais gravemente quando os enfrentei pela primeira vez. Eles eram lentos demais para reagir, então eu aproveitei uma abertura para partir o primeiro pela metade com minha espada. Eu me adiantei e apliquei um golpe duro, mas a lâmina entrou pouco mais que o tamanho da palma de uma mão para dentro dele, e eu havia afiado ela naquela manhã, parecia que eu acertei um pedaço de metal grudado em sua carne. Eu imaginei que ele fosse pelo menos cair no solo, mas então ele me atacou com sua própria espada, acertando meu ombro. Eu continuei lutando, mas quando o venci, percebi que aqueles do meu grupo que estavam vivos, estavam feridos, sangrando, alguns com ferimentos graves. Não era o bastante vencer alguns, era necessário vencer todos para que a luta acabasse."
Sthemar Hols, Soldado Imperial

"Criaturas horríveis e apavorantes. Eles dizem que quando você ouve barulhos secos e vacilantes à noite, provavelmente é o caminhar de um morto-vivo."
Kastar Handlin, Mercador Viajante

Rumores acadêmicos sobre zumbis
 
"Pó de warpstone em grande quantidade é suficiente para animar um corpo. E se você misturar com uma pasta grossa de extrato da planta Veneno de morto, apenas uma pequena quantidade de pó de warpstone se faz necessária."
Necromancer, anônimo

 
"Eles não deveriam ser tão temidos como são, pois são criados por nada mais que um truque tolo de Dhar. Sem o encanto pérfido do Necromancer, eles não são nada mais que cadáveres apodrecidos. Não há mal inerente ou poderoso neles, como há dentro de um demônio ou vampiro; além disso, eu não tenho dúvidas que eles não são mais vivos nem inteligentes que uma bola de barro. A magia pode animar o barro ao desejo do seu mestre da mesma forma, mas vampiros e demônios tem uma afinidade especial com os mortos e por isso tentam fazer o melhor uso que puderem deles."
Waldemarr, Acadêmico de Nuln

"Que lembrança melhor para os vivos do que essa? Que melhor maneira de lembrá-los do destino que os aguarda?"
Constantin Von Carstein, Lorde Vampiro

Rumor em suas próprias palavras
 
"Ohoooooooo"
Zumbi anônimo



terça-feira, 29 de março de 2011

Rumores: Os Kurgans

Os Kurgan estão invadindo nossas fronteiras! Eles estão queimando vila após vila de Kislev e agora vêm até nós! Primeiro eles tomam a cidade, estupram as mulheres, os velhos e crianças morrem primeiro, os soldados são levados prisioneiros, para onde, só Sigmar sabe. O Imperador precisa direcionar mais ouro para o exército, só dessa forma eles poderão nos defender para o que virá.
Agitador gritando na Ruckusplatz em Altdorf


Os Kurgan

Os Kurgan são bárbaros de cabelo negro, pele cor de oliva que habitam os Desertos do Chaos ao norte das Terras Negras nas estepes leste e também ao norte de Norsca. Os Kurgans são a raça mais numerosa de nórdicos e são nômades, sendo lutadores hábeis. Viajam tanto a cavalo quanto a pé. Mesmo sendo nômades, são muito difíceis de serem vistos no Velho Mundo, principalmente em tempos de paz, a menos que estejam invadindo. Os Kurgan, por estarem mais próximos do centro dos Desertos do Chaos que os outros povos nórdicos, veneram fanaticamente os Deuses da Ruína e costumam ser mais "abençoados" com suas dádivas (ou mutações, em outras palavras) que outros grupos de tribos nórdicas aliadas às forças do Chaos.

As tribos que compõe o povo Kurgan são:

Gharbars, Tahmaks, Kul, Dolgans, Tokmars, Yusak, Khazags, Avags e Aghols

obs: Os Kurgans são semelhantes aos Hunos, um povo bárbaro e cruel que assolava a Ásia Central na idade média.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Sessão 30 - MORTE NO REIK - OS MONTES MORTOS - PARTE 2


Após revistarem o navio e verificarem que ele estava completamente deserto (com exceção de tralhas imundas dos mutantes e bestiais) o grupo segue viagem pelo lago seco de Anondorf, em direção às ruínas da vila de Unberogue.
O sol continuava abrasador. Todos pingavam suor e exibiam cansaço e sujeira em seus rostos e corpos. A travessia pelo pântano era lenta, mas não houve nenhum outro contratempo. Eles sentem que a medida que seguem para o norte, a tensão fica cada vez mais insuportável. Até pisar num galho seco é motivo de sacar as armas e ter as veias entupidas de adrenalina.
 

Ao findar da tarde, o grupo avista as ruínas de Unberogue e se lembram do que Corrobreth disse sobre o lugar:
"Era a vila mais próxima do escarro da lua. Os aldeões decidiram não sair da cidade, no entanto, quando os exércitos do Conde Elector de Talabecland atacaram a região, ao chegar na cidade não encontraram ninguém. Suspeitou-se de que haviam fugido para as montanhas próximas, no entanto, nunca mais foram vistos. A cidade inteira simplesmente desapareceu sem deixar vestígios."
O grupo entra na vila com cuidado, nervos à flor da pele. Observam que Unberogue está num estado muito pior que a vila de Anondorf. O muro da cidade e todas as construções estão em péssimas condições, completamente reduzidas a escombros. A única construção relativamente estável no local, é onde aparentemente era a prefeitura, na extremidade norte da cidade. É uma construção de um andar, mais alta que o normal, com sótão. Não há mais portas e janelas, e o sotão dali é o único lugar onde se pode encontrar algum nível de segurança. Na prefeitura, tudo está em ruínas e vê-se só escombros. Para chegar ao sótão, sobe-se por uma escada de pedra no canto. O piso do sótão é de madeira, em alguns pontos bem apodrecida. Suficientemente forte para suportar um caminhar suave, mas com toda certeza não aguentaria a pressão de luta ou de muitas pessoas em um ponto único. Metade do telhado havia se desabado, mas a outra metade oferecia alguma segurança contra o relento, e a parte aberta permitia um bom campo de visão da cidade.
O grupo arruma pedras e restos de móveis e madeira para fazer uma barricada e decidem passar a noite ali. Konrad, que parecia estar fora do seu normal, talvez embriagado pelos ventos da magia oscilantes e concentrados da região, é contra a barricada. Mas o grupo vai contra ele e decide construí-la. Ele estava contra, mas não conseguia pensar em outra solução.
Enquanto procuram materiais para a barricada, encontram ossos roídos e sujos de sangue coagulado, aparentemente pertencentes a um ser humano morto recentemente. Encontram também o que parece ter sido vestígios de um acampamento montado. O cheiro do lugar não engana. O perfume inconfundível de Etelka toma conta do lugar.
O grupo se cobre com os cobertores, para protegê-los do frio da noite, além de tentar suavizar o odor de seus corpos.
 

A noite chega e segue adiante. Grim Jaw e Berthold fazem a primeira ronda. Próximo da meia noite, o grupo começa a ouvir gemidos distantes, que vão aumentando em proximidade e intensidade. Aos poucos, Grim Jaw começa a ouvir passos e vê de longe a maior manifestação dos poderes pérfidos do chaos: uma legião de mortos vivos vindo na direção da cidade. Berthold entra em pânico e fica paralisado de medo. O grupo acorda com o barulho. Berserk resolve espiar e também fica paralisado de medo, tamanho o terror que tais criaturas causam nos vivos. A vida de aventureiro vale tudo, menos enfrentar mortos-vivos.
As criaturas entram na cidade. Grim Jaw observa com todos os cabelos de seu corpo eriçado. Aparentemente são cadáveres ambulantes de aldeões comuns. E impressionante: eles começam a entrar nas casas, alguns conduzindo ações estranhas, como capinar o chão pedegroso e seco, empurrar restos de carroças sem roda. Aparentemente, estão vivendo a vida que tinham antes de serem amaldiçoados. Um deles, de barba e carregando uma espada entra na prefeitura e senta-se no chão, onde um dia deve ter havido uma mesa. O grupo imagina que se tratava do zumbi do elder da vila.
Grim Jaw observa. Em algum momento, o elder morto se levanta e começa a subir as escadas. O grupo pede para Konrad fazer algo, para pegar o cajado que paralisava mortos vivos e tentar usá-lo contra o zumbi. Konrad, que estava num dia estranho fica relutante, dizendo que o cajado não iria funcionar, e que era para o grupo matar o zumbi. Com insistência, Konrad tira o cajado encontrado no laboratório secreto de Dagmar Wittegenstein, sob o observatório que os anões estavam construindo algumas milhas após Altdorf e fica em pé na porta. O zumbi chega próximo e então fica paralisado. Konrad retira algumas toras e pedras da barricada e percebe que o zumbi está sob o efeito do cajado.
Para a surpresa de alguns, Konrad decide desfazer a barricada inteira, e com a ajuda de Grim Jaw, ficam frente a frente com o zumbi paralisado. Konrad decide abaixar o cajado para ver o que ocorre e o zumbi automaticamente volta a agir. Konrad ergue o cajado de novo e então decide fazer o inesperado. Ataca o zumbi com sua espada, que começa a gemer alto e uma luta ocorre. Grim Jaw o ataca com seus machados, jogando-o inerte escada abaixo, causando grande barulho.
Olhando lá fora, Grim Jaw percebe que todos os zumbis da vila começam a se dirigir para a prefeitura. O grupo percebe que não há tempo de refazer a barricada e decidem se armar e esperar para ver o que ocorre. Konrad decide ficar na frente da porta, com seu cajado erguido. Uma horda de quase quarenta zumbis começam a subir as escadas, indo na direção de carne fresca. Quando alguns começam a se aproximar de Konrad, ficam paralisados. Os que estão atrás, forçam caminho por entre os paralisados, ficando paralisados também. No entanto, o volume de zumbis começam a fazer com que Konrad precise caminhar para trás, abrindo caminho na porta para a horda. Alguns zumbis conseguem escapar dos efeitos do cajado e lutam, Grim Jaw ataca furiosamente com seus machados.
Johan, Berserk, Melk Zedek, Delita e Berthold não conseguem se mover, todos paralisados de medo. Com a morte certa se aproximando, alguns recuperam os nervos e resolvem pular pelo buraco no telhado, até o chão, preferindo se machucar do que perder a vida. Melk Zedek e Berthold não conseguem escapar do medo e são levados por seus companheiros até a abertura no telhado para serem jogados de cima. Melk recupera os sentidos e salta por conta própria. Berthold é empurrado do telhado por Renate, deixando somente Grim Jaw e Konrad, que parecia perceber o fim se aproximando e demonstrando uma coragem acima do normal. Parecia uma embriaguez de coragem.
No entanto, ele não imaginava que o número crescente de zumbis no telhado iria forçar a madeira apodrecida e fazer o piso do sótão desabar sobre o térreo da prefeitura, no meio de uma legião de mortos-vivos famintos que rapidamente o rodeia e ele não é devorado e destruído imediatamente graças a proteção do machado e do anel dado por seu mestre. O grupo decide subir novamente para o sótão, que aparentemente é o local mais seguro da cidade, agora que uma parte inteira do piso desabou. Berserk joga uma corda para Grim Jaw. Delita escala rapidamente e pega sua corda. Berserk também consegue escalar. O restante tenta, mas não consegue e espera que seus amigos joguem as cordas para que subam o mais rápido possível.
Enquanto isso, Konrad mantêm os mortos-vivos ocupados em torno dele, a maioria paralisado, alguns tentando entrar no meio dos pasalisados e ficando paralisados também. Alguns conseguem escapar dos efeitos do cajado, mas caem sob os efeitos do anel, que causa medo neles. Alguns escapam de ambos efeitos e tentam atacar Konrad que se defende como pode, vendo a morte se aproximar.
O grupo começa a subir de volta para o telhado. Quando percebe que todos estão salvos, Konrad começa a se mover em direção ao lado de fora para tentar subir pelas cordas também. A legião o segue, alguns paralisados, outros não, alguns não agindo de medo, e outros não. Pouco a pouco, o volume de zumbis mostra-se maior que as proteções de Konrad e ele começa a sentir as consequências dos ataques. Um dos zumbis consegue vencer as duas proteções e faz um ataque brutal com uma foice, acertando a perna de Konrad e aparentemente atingindo uma artéria, o que iria lhe causar morte certa.
Com as últimas forças, Konrad consegue se agarrar em uma das cordas e é puxado por Grim Jaw e seus amigos. Lá em cima, eles observam o estado de Konrad e pedem para que ele não desista da vida. Mas Konrad, embriagado de medo, diz que não quer mais continuar vivo e prefere morrer a levar uma vida como essa e sonha com sua vida pacata na vila com seu pai. No entanto, Konrad desiste de se entregar e recupera as forças, por coincidência Berthold percebe que a ferida não era tão grave assim e usa suas habilidades e ervas para cuidar da ferida.
O grupo está a salvo, e observa uma legião imensa de mortos vivos rodearem a prefeitura a noite inteira, tentando subir para atacá-los. Eles aguardam o amanhecer. Com a aurora se aproximando, a horda começa a se mover e recuam novamente para as montanhas, desaparecendo antes do nascer do sol. Após terem certeza de que não havia mais nada na cidade, eles descem do telhado um por um. Grim Jaw resolve saltar. O grupo observa admirado pela habilidade e coragem do anão. A admiração dá lugar a vergonha quando ele cai de boca no chão, machucando consideravelmente.
Enfraquecidos, cansados (alguns não conseguiram dormir a noite) e machucados, não tem outra saída, senão seguirem viagem para a bacia do demônio, em direção ao destino que os aguarda.
Seguem viagem sob o sol quente e a vegetação nessa região é praticamente inexistente, há somente, em maior quantidade, o estranho arbusto luminoso que se move sozinho.
 

O tempo passa. Começa a entardecer e o grupo ainda não avista a bacia do demônio. Eles esperam encontrá-la para ter a proteção dos monólitos druídicos. O grupo aperta o passo, mas são atrasados pela baixa velocidade do anão. A noite chega, e o grupo avista ao longe, os monolitos e o lago que acreditam ser a bacia do demônio. No entanto, começam a ouvir gemidos distantes e começam a correr, com todas suas energias em direção às pedras.
Eles chegam lá e observam o local onde o suposto meteoro teria caído e formado uma cratera que mais tarde se transformou num lago. O lago é totalmente rodeado pela vegetação reluzente de arbustos estranhos e os monolitos druídicos cercam o lago. Grim Jaw olha em direção às montanhas e vê algo que fez seu coração gelar, uma legião de milhares de mortos-vivos vindo das montanhas. Dezenas de milhares, cobrindo os montes com seus olhos vermelhos. Renate também olha e fica apavorada. O restante do grupo decide não olhar.
No entanto, a legião não consegue se aproximar das pedras e ficam a uma boa distância e aos poucos começam a recuar de volta para as montanhas.

O grupo finalmente chegou à bacia do demônio e o clímax da viagem está para começar.

História do mundo - parte 9: Redenção

Nós vencemos as hordas demoníacas e expulsamos as nuvens pulsantes do Chaos que atormentavam a terra. Alegre-se o mundo, pois nós mantivemos sua santidade e limpamos o ar do odor pérfido do mal. Mas qual o custo disso para nós, os valorosos e bravos de Ulthuan? Que sacrifícios foram feitos sobre esse altar de esperança?
O lamento de Bel Shanaar



Durante os estágios finais da batalha, os Magos de Ulthuan desapareceram um por um, suas vidas perdidas para garantir que o vórtice fosse concluído. Enquanto isso, Aenarion e seu fiel Dragão Indraugnir estavam engajados em um combate mortal contra os quatro imponentes Demônios Maiores enviados para destruí-lo. Era uma batalha que nenhum mortal seria capaz de sobreviver, pois cada um dos Demônios era o mais poderoso de sua espécie. Mas Aenarion era o veículo da fúria de seu deus, e em sua mão estava a Espada de Khaine. O primeiro a cair foi o Lorde das Mutações, o Grand Mutatore, com sua cabeça de ave cortada de seu pescoço emplumado com um ataque rápido como um relâmpago após os fogos mágicos do Demônio terem sido bloqueados pelo escudo abençoado de Aenarion. Girando sobre seus calcanhares, Aenarion se virou para enfrentar o Guardião dos Segredos, que avultava ameaçadoramente por cima com seus vários membros. Mesmo assim, a monstruosidade foi mais rápida que Aenarion. Aenarion foi agarrado por uma imensa garra e teve suas costelas esmagadas como se fosse vidro, e em troca, o Rei-Deus Elfo cravou sua espada no coração do demônio. O próximo a ser derrotado foi o Grande Imundo, sua pele infectada e cheia de pus foi carbonizada pelas brancas chamas incandescentes de Indraugnir. O último a cair diante de Aenarion foi o furioso e terrível Devorador de Sangue, mas não antes da monstruosidade ter aplicado um último golpe com seu machado forjado no inferno em Indraugnir. Um golpe que seria fatal.

Ensanguentado e machucado, Aenarion subiu sobre o ferido Indraugnir pela última vez e ordenou que ele voasse de volta até a Ilha da Perdição - uma viagem exigiu demais do nobre draco. Indraugnir estremeceu violentamente e morreu nas praias da temida ilha. O último ato de Aenarion foi uma peregrinação a pé, até o Altar de Khaine, onde ele devolveu a espada a seu altar na esperança de que a era do derramamento de sangue tivesse finalmente chegado ao fim. Seu corpo nunca foi encontrado.


Com a conclusão do vórtice de Caledor Domador de Dragões, os poderes fétidos que sustentavam as hostes demoníacas foram drenados do mundo. Na distante Lústria, as constantes investidas que os Lagartianos enfrentavam, cessaram ao mesmo tempo que os exércitos demoníacos desapareciam de sua visão. Os Anões das Montanhas, retornaram para um última investida, mas não encontraram nada, a não ser ecos de gritos ecoando na escuridão de suas fortalezas. As tribos que se tornariam o Império dos Homens agarram suas lanças e machados como se fossem talismãs, mal acreditando que o terror havia terminado. O mundo respirou livre novamente e descobriu que o ar estava saudável e limpo. Com o sacrifício de seus maiores filhos e heróis, Ulthuan trouxe estabilidade e esperança para o mundo - pelo menos por um tempo.

O ritual de Caledor precisaria ser mantido eternamente, com Ulthuan estando sempre ameaçada de destruição pelas vastas energias que as pedras místicas tem de dissipar. Quando os elfos dizem que o mundo de hoje não é tão mágico como era antes, é verdade, pois muita magia foi armazenada dentro das pedras de Ulthuan, por isso há encantamentos do passado que jamais poderão ser novamente realizados e artefatos mágicos tão poderosos que é impossível de serem recriados.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Coisas de fã: Fantasia de Witch-hunter

Esse daí investiu na fantasia.

Carreiras: APPRENTICE WITCH (Aprendiz de Bruxa)

 O gelo do inverno é meu professor. E costuma ser um mestre cruel.

Todos os anos, as bruxas do gelo surgem das tempestades de neve para procurar as temerosas garotas dos Gospodars. Qualquer rara garota que demonstre talento mágico é levada e nunca mais verá sua família novamente. Mal tendo idade suficiente para ser chamada de mulher, essas futuras aprendizes são levadas para o meio do cruel inverno de Kislev, e ali, as mais velhas as ensinam os caminhos das Rainhas-Khans. Aquelas que sobrevivem (e são poucas) são transformadas para sempre: tornam-se frias, distantes, maduras para sua idade e muito conscientes da sua insignificância diante do poder do Coração Gélido da Velha Viúva. Eventualmente, essas aprendizes bem-sucedidas serão liberadas de suas tutoras e permitidas que se aventurem como "Damas do gelo".

Requisito: Você deve ser mulher para entrar nessa carreira.

 

Um dia na vida de uma Aprendiz de Bruxa
Nos meses que se seguem, essas jovens garotas são treinadas nos caminhos da Magia do Gelo assim como as Rainhas-Khans foram através de incontáveis gerações. Elas aprendem a sobreviver nas tempestades frias do inverno ao mesmo tempo em que amadurecem e se tornam mais frias.
A maior parte de sua rotina diária envolve tarefas orientadas para sua sobrevivência, como coletar lenha e armar armadilhas para capturar gamo selvagem, e o restante de suas horas é devotada à prática e estudo da Magia do Gelo. A maioria não sobrevive a condições tão duras, mas aquelas que conseguem, se tornam protetoras da terra e de seu povo, e uma força com a qual eles podem contar.
Algumas aprendizes acham que os desafios inerentes de se tornar uma Dama do Gelo é muito assustador e solitário. Muitas dessas usam seu conhecimento para ajudar os outros sem abraçar totalmente o caminho solitário da Dama do Gelo.
Para aquelas que permanecem firmes e determinadas diante dos incontáveis desafios, entretanto, a recompensa é significante. A possibilidade de ter acesso a mistérios mais profundos é certamente aparente, mas é recomendado que não esqueçam a auto-confiança e aceitação das limitações pessoais e de habilidades.

Fatos pouco conhecidos
Após completar seu treinamento inicial e ganhando a liberdade de suas tutoras, os olhos da ex-aprendiz ficam com uma gélida sombra azul. Não importa sua aparência anterior, após o término da aprendizagem, a pele da futura Dama do Gelo adota uma palidez quase translúcida e se torna levemente fria ao toque.
Há rumores de que uma aprendiz de bruxa, no primeiro aniversário após sua seleção para o aprendizado, deve cavar um buraco no gelo sem ajuda de ferramentas e entrar dentro dele. A aprendiz deve então sobreviver uma noite ao relento, tendo somente um cobertor fino para se proteger dos elementos. Como nenhuma aprendiz, Damas do Gelo ou Bruxas do Gelo falarão sobre esse ritual, a não ser entre elas mesmas, a veracidade dele nunca foi confirmada.

Quem pode se transformar num Aprendiz de Bruxa?
Career Entries: Todas

O que posso me tornar depois de ser um Aprendiz de Bruxa?
Career Exits: Ice Maiden (Dama do Gelo), Initiate of Ulric (Iniciada de Ulric), Witch (Bruxa)

quinta-feira, 24 de março de 2011

Carreiras: APPRENTICE RUNESMITH (Runista Aprendiz)

Em mais cinquenta anos, talvez eu possa entender essa runa simples para ser capaz de aprender os mistérios mais profundos .

Os runistas são na verdade um clã que possui algumas poucas famílias antigas que transmitiram o conhecimento e habilidades de entalhar runas pelas gerações. Cada Runista Mestre ensina os fundamentos do fogo e da forja para jovens membros de sua família, selecionando os mais talentosos para se tornarem um Runista Aprendiz. Apesar da escolha ser uma grande honra, isso significa longos anos de estudos e serviços a seu mestre na criação de runas mais complicadas. Os Runistas raramente anotam os segredos de suas artes e mesmo quando o fazem, o conhecimento fica imerso em enigmas e charadas. Os aprendizes devem ser pacientes, inteligentes e perceptivos para aumentar seu status. Durante o tempo de aprendizagem, os aprendizes runistas costumam deixar o serviço de seu mentor para coletar ingredientes, ferramentas e suprimentos para a forjadura de novas runas.

Nota: Somente anões podem seguir essa carreira.
 


Um dia na vida de um Aprendiz de Runista
Embora a vida de um runista não seja fácil, os aprendizes dessa antiga arte estão um pouco acima da maioria de outros aprendizes - pois eles carregam uma grande tradição familiar e foram escolhidos devido a seu mérito.
Eles devem se esforçar tanto quanto qualquer aprendiz, mas todo esse esforço serve a um propósito maior além do pagamento pelo duro aprendizado fornecido por seu mestre. Tudo é uma lição, e se o aprendiz não perceber a lição de primeira, ele precisa tentar desvendá-la, e quanto mais faz isso, mais ele aprende. A mais trivial das tarefas, como fazer uma massa de pão, serve para fortalecer os punhos para no futuro esculpir o aço. A trabalhosa cópia de entendiantes livros de mineração ensina a maneira mais precisa e perfeita de formar seu caráter. O reparo de um relógio quebrado mostra como relacionar as partes com o todo, como trazer mágica naquilo que na verdade é um simples símbolo. Sem uma treinamento e compreensão adequados, as runas se tornam inúteis; um forjador humano pode copiar exatamente uma runa e ela não ter magia alguma, porque ele não compreende a maneira com que um anão a fez. A forma é o território e a runa é o poder que ela simboliza.

Fatos pouco conhecidos
O maior dia na vida de um aprendiz é quando é confiado a ele a primeira runa a ser entalhada, quando lhe é dado as ferramentas e a arma e é dito para que ele faça a inscrição de uma runa real, não para praticar ou treinamento. A arma que ele fizer será dada a um membro de sua própria família para ser usada em combate, e a forma que a batalha transcorrer é considerado um presságio. Se o empunhador da primeira runa entalhada triunfar, ou mesmo se morrer tendo ajudado os anões a vencerem, o fato é considerado um sinal positivo; se um inimigo roubar a arma é um sinal de mal agouro.
Às vezes, as linhagens de runistas ficam escassas, especialmente depois de uma grande invasão de orcs. Durante esses raros eventos - que ocorrem uma vez por século, talvez - as famílias runistas procurarão adotar um anão de outro clã. Há muitos testes de conhecimento, habilidade e coragem, mas alguns serão escolhidos, e devem abandonar tudo de sua própria herança para serem totalmente aceitos como parte da família dos entalhadores de runas.

Quem pode se transformar num Aprendiz Runista?
Career Entries: Artisan (Artesão), Runebearer (Mensageiro de Runas), Scribe (Escriba), Student (Estudante)


O que posso me tornar depois de ser um Aprendiz Runista?
Career Exits: Journeyman Runesmith (Runista Viajante), Runebearer (Mensageiro de Runas), Scholar (Escolástico), Scribe (Escriba), Shieldbreaker (Rompedor de Escudos)

quarta-feira, 23 de março de 2011

História do Mundo - parte 8: O vórtice

Caledor Dragontamer

 O maior mago daquela era, Caledor Domador de Dragões, acreditava que havia um único meio de derrotar as hordas demoníacas de uma vez por todas. Ele concebeu um grande plano para drenar os turbilhões de magia que se espalhavam do redemoinho no topo do mundo. Ele pretendia canalizar essas forças etéricas em uma grande espiral de energias e reconduzi-las de volta ao Reino do Chaos. Era uma manobra audaciosa e desesperada, e se falhasse, todo ser vivo no mundo iria pagar com a própria vida. Tal era a situação de Ulthuan que seu conselho governante sentiu que não tinham escolha.
Caledor e seus acólitos arquimagos reconstruíram e expandiram a antiga rede espiral de pedras místicas que existiam na ilha de Ulthuan desde a aurora de seus dias, ampliando o fluxo de energia ao redor de Ulthuan cem vezes, tão poderoso, concentrado e denso, que  os ventos da magia se tornaram visíveis até mesmo para quem não tivesse a visão de um mago. Tanto poder, que ameaçava afundar a ilha. O palco estava montado.
Na Batalha da Ilha dos Mortos, rodeado por inumeráveis exércitos vorazes e demoníacos, Caledor Domador de Dragões terminou sua grande obra. Incrivelmente, o ritual final do arquimago foi bem sucedido. O vórtice cósmico resultante varreu a essência turbilhante do Chaos do mundo como se fosse o veneno de uma ferida, devagar no início, mas com velocidade crescente até que um furacão de energia se alastrou por todo o céu. 


Vórtex e os ventos da magia

segunda-feira, 21 de março de 2011

CONTOS DE WARHAMMER: Geheimnisnacht

O conto abaixo foi traduzido da coleção Gotrek e Félix de Willian King. Foi o primeiro conto da saga da dupla e faz parte da coleção de contos chamado Trollslayer. O conto foi escrito no ano 2000 e ele traduz muito do clima do que é o mundo de Warhammer, pelo menos da parte do mundo que diz respeito aos poderes sombrios e a dura vida de aventureiros. Além claro, de mostrar a personalidade de alguns personagens do mundo de Warhammer e dar idéias para construir a personalidade dos seus próprios personagens do RPG. Divirtam-se.

Retirado do livro Trollslayer (ou Gotrek & Felix First Omnibus) - Todos direitos reservados
 
 Capas das edições de Trollslayer e Gotrek & Felix First Omnibus. Compre aqui

Introdução Original ao Cenário

Essa é uma era de trevas, uma era sangrenta, uma era de demônios e feitiçaria. É uma era de batalha e morte, a era do fim do mundo.
No meio de todo o fogo, chama e fúria, é também uma era de heróis poderosos, ações ousadas e grande coragem.
No coração do Velho Mundo, se extende o Império, o maior e mais poderoso dos reinos humanos. Conhecido por seus engenheiros, feiticeiros, comerciantes e soldados, é uma terra de grandes montanhas, largos rios, florestas negras e grandes cidades. De seu trono, em Altdorf, reina o Imperador Karl Franz, descendente sagrado do fundador dessa terra, Sigmar, o portador do martelo.
Mas são tempos que estão longe de serem civilizados. Por todos os cantos do Velho Mundo, desde os castelos dos Cavaleiros Bretonianos até as terras geladas de Kislev no extremo norte, há rumores de guerra. Nas imponenentes Montanhas Beiramundo, as tribos Orcs estão se reunindo para um novo ataque. Bandidos e renegados vagueiam ao sul, nas selvagens terras da Border Princes. Há rumores de seres como ratos, os Skaven, aparecendo nos esgotos e pântanos de toda a região. E nas terras gélidas e desertas do norte, há a sempre presente ameaça do Chaos, de demônios e bestiais corrompidos pelos fétidos poderes dos Deuses da Ruína. Quanto mais a hora da batalha se aproxima, o Império precisa como nunca de novos heróis.



Geheimnisnacht

Depois dos terríveis eventos e aventuras medonhas que passamos em Altdorf, meu companheiro e eu fugimos em direção ao sul, seguindo nenhum caminho em especial, somente guiados pela sorte. Nós utilizamos todos meios de transportes que apareciam: carruagens, carroças, vagões e recorrendo a nossos pés quando não havia nada disponível.
Foi um tempo difícil e temeroso para mim. Em cada curva, havia o perigo iminente de sermos pegos, mais que isso, aprisionados ou executados. Eu via guardas em cada taverna e caçadores de recompensas atrás de cada arbusto. Se o Trollslayer suspeitasse que as coisas pudessem ser diferentes, ele nunca teria se preocupado em transmitir essas informações para mim.
Para alguém tão ignorante sobre o verdadeiro estado de nosso sistema legal como eu era, parecia realmente possível que o inteiro aparato de nosso poderoso e imenso estado estava mobilizado para a captura de dois fugitivos como nós. Eu realmente não tinha a mínima idéia de quão frágil e incoerente as regras da lei eram aplicadas. Realmente foi uma pena todos aqueles guardas e caçadores de recompensas que povoavam minha imaginação não existiam de fato - pois se fosse assim, o mal não teria florescido tão fortemente dentro das fronteiras de minha terra natal.
A extensão e natureza do mal iria se tornar muito clara para mim em um noite negra, depois de  embarcarmos em um carruagem que seguia para o sul, naquela que talvez fosse a noite mais nefasta e de mau-agouro de nosso inteiro calendário...


- Minhas Viagens com Gotrek, Vol. II, por Herr Felix Jaeger (Imprensa de Altdorf, 2505)


A Geheimmnisnacht - Noite dos mistérios
Geheimnisnacht (lê-se gue-rrái-mi-nis-nát) é a chamada noite dos mistérios no calendário do Império. É considerada uma das noites de maior mau agouro de todo o ano. É a noite do ano em que a órbita da lua Morrslieb está mais próxima do planeta. É a noite em que os ventos da magia estão mais poderosos e nascimentos costumam gerar mutações. Essa noite cai entre os meses de Vorgeheim e Nachgeheim. As pessoas comuns trancam suas portas e ficam em casa nessa noite orando pela chegada rápida do amanhecer. É dito que demônios e contaminados saem livremente e conduzem cerimônias de veneração aos poderes da ruína.

 
 Capítulo 1

MALDITO SEJAM TODOS HOMENZINHOS cocheiros e todas mulheres humanas: Gotrek Gurnisson murmurou, adicionando um palavrão na língua dos anões.
"Você tinha de insultar a Lady Isolde, não tinha?" Félix Jaeger disse, irritado. "Do modo como as coisas andam, tivemos sorte deles não terem atirado contra nós. Se é que você pode chamar de "sorte" termos sido largados no meio da floresta de Reikwald na véspera de Geheimnisnacht."
"Nós pagamos nossa passagem. Tínhamos o direito de sentar lá dentro tanto quanto ela. Os cocheiros eram totalmente covardes:" Gotrek resmungou. "Eles se recusaram a me enfrentar no mano a mano. Eu não teria me importado de sofrer o toque do aço, mas ser alvejado com chumbo grosso não é uma morte digna para um Trollslayer."
Félix balançou sua cabeça. Ele podia ver que o temperamento ruim de seu companheiro estava para aflorar. Não havia como argumentar com ele e Félix tinha muitas outras coisas com as quais se preocupar. O sol estava se pondo, dando um tom avermelhado à úmida floresta. Longas sombras dançavam sinistramente e fizeram ele lembrar de muitos contos aterrorizantes sobre os horrores que podem ser encontrados sob a copa das árvores em uma noite.
Ele limpou seu nariz com a ponta de sua capa, então apertou seu casaco de lã de Suddenland contra o corpo. Ele assoou o nariz e olhou para o céu, onde Morrslieb e Mannslieb, as luas menor e maior, estavam já totalmente visíveis. Morrslieb parecia estar emitindo um fraco brilho esverdeado. Isso não era um bom sinal.
"Eu acho que vou ficar com febre:" Felix disse. O Trollslayer olhou para ele e sorriu com desdém. Sob os últimos raios do sol, a corrente de sua narina parecia um arco de sangue, indo do nariz até a orelha.
"Sua raça é fraca:" Gotrek disse. "A única febre que eu sinto nessa noite é a febre por batalha. Ela canta em minha cabeça."
Ele se virou e olhou para a escuridão da floresta. "Apareçam estúpidos bestiais!" ele berrou. "Eu tenho um presente para vocês."
Ele riu alto e passou o dedo na lâmina de seu imenso machado de duas mãos. Felix viu que saiu sangue. Gotrek começou a chupar seu dedo.
"Sigmar nos proteja, fique quieto!" Felix sussurrou. "Quem pode saber o que se esconde aí fora em uma noite como essa?"
Gotrek olhou para ele. Felix pôde ver o lampejo insano de violência aparecer em seus olhos. Instintivamente, a mão de Félix escorregou para perto do cabo de sua espada.
"Não me dê ordens, homenzinho! Eu pertenço a Raça Anciã e obedeço somente aos Reis Sob a Montanha, embora eu esteja no exílio."
Felix se curvou, formalmente. Ele era bem instruído no uso da espada. As cicatrizes em seu rosto mostravam que ele havia realizado vários duelos em seus anos de estudante. Ele já tinha matado um homem e assim, pondo um fim em sua promissora carreira acadêmica. Mas ainda assim, ele não cogitava sequer em pensar sobre enfrentar o Trollslayer. A ponta da crista do cabelo de Gotrek mal chegava ao peito de Félix, mas o anão era mais encorpado que ele e sua estrutura era de puro músculo. E Félix já tinha visto Gotrek usar aquele machado.
O Anão aceitou o cumprimento como um pedido de desculpas e se virou novamente para a escuridão. "Apareçam. Saiam daí!" Ele gritou. "Não me interessa se todos os poderes do mal caminham nas florestas nessa noite. Eu irei aceitar qualquer desafio."
O Anão estava começando a entrar em seu estado de fúria. Durante o tempo em que já passaram juntos, Félix notou que os longos períodos de tranquilidade do Trollslayer eram muitas vezes seguidos por breves explosões de fúria. E isso era uma das coisas sobre seu companheiro que fascinava Félix. Ele sabia que Gotrek havia se tornado um Trollslayer como punição por algum crime. Ele fez um juramento de buscar a morte em um combate desigual contra algum terrível monstro. Ele parecia quase loucamente amargurado - mas ainda assim, ele mantinha seu juramento.
Talvez, pensou Félix, eu também ficasse louco se tivesse caído em exílo no meio de estranhos de uma outra raça. Ele sentia alguma simpatia pelo insano anão. Félix sabia o que era ser expulso do lar. O duelo com Wolfgang Krassner havia causado um grande escândalo.
Naquele momento, entretanto, o anão parecia empenhado em matar os dois, e ele não queria fazer parte disso. Félix continuou a seguir adiante pela estrada, lançando um ocasional olhar de preocupação em direção às duas luas cheias. Atrás dele, a gritaria continuava.
"Não há guerreiros entre vocês? Venham provar do meu machado. Ele têm sede!"
Somente um louco atiçaria o destino e os poderes das trevas na Geheimnisnacht, a noite do mistério, nos recônditos mais negros da floresta, Félix concluiu.
Ele ainda faria um cântico na língua dura e gutural dos Anões da Montanha, então, novamente em Reikspiel: "Enviem-me um campeão!"
Por um instante houve silêncio. As gotículas da pegajosa neblina condensada escorria-lhe na testa. Então - de longe, muito longe - o som de cavalos galopando quebrou o silêncio da noite.
O que esse maníaco fez, Félix pensou, será que ofendeu os poderes antigos? Será que eles enviaram seus cavaleiros demoníacos para nos levar?
Félix saiu da estrada. Ele estremeceu quando as folhas úmidas tocaram seu rosto. Elas pareciam o toque dos dedos de um morto. O barulho dos cascos ficaram mais próximos, movendo-se em velocidade infernal pela estrada da floresta. Certamente, somente um ser sobrenatural poderia manter um ritmo tão aluscinante pela estrada aberta da floresta. Ele sentiu sua mão tremer enquanto desembainhava a espada.
Eu fui tolo em seguir Gotrek, ele pensou. Agora, eu nunca terminarei o poema. Ele podia ouvir o alto relinchar dos cavalos, o estalar de um chicote e o poderoso giro de rodas.
"Bom!" Gotrek rugiu. Sua voz podia ser ouvida fora da trilha. "Bom!"
Houve um berro alto e quatro imensos cavalos negros conduzidos por uma carruagem igualmente negra surgiu rapidamente. Félix viu as rodas saltarem ao atingirem algo na estrada. Ele mal pode ver o vulto do condutor em seu manto negro. Ele se escondeu atrás dos arbustos. Ele ouviu o som de pés se aproximando. Os arbustos foram afastados. Diante dele estava Gotrek, parecia mais louco e insano que nunca. Sua crista estava toda desfeita, havia lama em todo seu corpo tatuado e sua jaqueta de couro curtido estava rasgada e destruída.
"Os desgraçados tentaram me matar atropelado!", ele gritou. "Vamos atrás deles!"
Ele se virou e seguiu a estrada enlameada em passo rápido. Félix notou que Gotrek estava cantando alegremente na língua Khazalid.

Capítulo 2

SEGUINDO ADIANTE na estrada para Bogenhafen, o par encontrou a taverna Pedras Paradas. As janelas estavam fechadas e não havia luz aparente. Eles podiam ouvir o relinchar nos estábulos, mas quando checaram, não viram nenhum carruagem, negra ou de qualquer outra cor, somente alguns cavalos ariscos e um carrinho de mascate.
"Perdemos a carruagem. Mas podemos ter ganho uma cama para passar a noite." Félix sugeriu. Ele olhou cautelosamente a lua menor, Morrslieb. O fraco e doentio verde estava mais forte. "Eu não gostaria de ficar ao relento sob essa luz mau-agourenta."
"Você é fraco homenzinho. Covarde também."
"Eles devem ter cerveja."
"Por outro lado, algumas de suas sugestões tem algum valor. Mesmo a cerveja humana sendo aguada demais, é claro."
"É claro", Felix disse. Gotrek não percebeu a nota de ironia em sua voz.
A hospedaria não era fortificada mas as paredes eram bem espessas, e quando eles tentaram abrir a porta, perceberam que ela estava trancada. Gotrek começou a bater nela com o cabo de seu machado. Não houve resposta.
"Posso sentir o cheiro de humanos lá dentro", Gotrek disse. Félix se questionou se ele seria capaz de sentir outro cheiro além do seu próprio fedor. Gotrek nunca tomava banho e seu cabelo era empapado com gordura de porco, para manter sua crista tingida de vermelho sempre em pé.
"Eles se trancaram aí dentro. Ninguém sai na noite de Geheimnisnacht. A menos que sejam bruxas ou adoradores de demônios"
"É o caso da carruagem negra", Gotrek disse.
"Seus ocupantes não deviam ter nada de bom. As janelas estavam ocultas por curtinas e não havia brasão algum na carruagem."
"Minha garganta está muito seca para discutir tais detalhes. Vamos, abram isso aqui ou eu vou usar meu machado na porta!"
Félix pensou ter ouvido movimento lá dentro. Ele colocou sua orelha contra a porta. Ele podia ouvir o murmúrio de vozes e algo parecido com um choro.
"A menos que você queira perder sua cabeça homenzinho, sugiro que você saia da frente," Gotrek disse para Félix.
"Só um momento. Ei você aí dentro! Abra agora! Meu amigo tem um machado largo e um temperamento curto. Sugiro que você faça o que ele diz ou irá perder sua porta."
"O que você quis dizer com "curto"? Gotrek disse ressentido.
Por trás da porta veio um grito fino e trêmulo. "Em nome de Sigmar, vão embora, demônios do inferno!"
"Pronto, é isso aí," Gotrek disse, "Pra mim já chega."
Ele levou seu machado para trás, em um grande arco. Félix viu as runas na lâmina brilharem sob a luz da Morrslieb. Ele pulou para o lado.
"Em nome de Sigmar!" Félix gritou. "Você não pode nos exorcizar. Somos simples viajantes cansados."
O machado atingiu a porta com um som cortante. Lascas de madeira voaram dela. Gotrek se virou para Félix e sorriu malignamente para ele. Félix notou a falta de um dente.
"Portas vagabundas, essas feitas por vocês homenzinhos," Gotrek disse.
"Eu sugiro que você abra enquanto ainda tem uma porta, " Félix gritou. "Espere", a voz trêmula disse. "Essa porta me custou cinco coroas de Jurgens o carpinteiro."
A porta foi destrancada. Ela se abriu. Um homem alto e magro com uma triste face no meio de seus cabelos brancos e lisos estava diante deles. Ele tinha uma clava em uma mão. Atrás dele havia uma velha senhora que segurava um pires contendo uma vela.

Você não precisará de sua arma, senhor. Nós queremos somente uma cama para passar a noite," Félix disse. "E cerveja," o anão resmungou. "E cerveja," Félix concordou.
"Muita cerveja," Gotrek disse. Félix olhou para o velho e deu de ombros, impotente.

Lá dentro, a hospedaria tinha um pequeno quarto comum. O bar era feito de tábuas colocados sobre dois barris. De um canto, três homens armados que pareciam mascates viajantes os observavam com cautela. Cada um deles tinham adagas nas mãos. As sombras escondiam seus rostos, mas eles pareciam preocupados. O senhorio trouxe o par para dentro e colocou a barra da porta de volta ao lugar. "Você pode pagar, Herr Doktor?" ele perguntou nervosamente. Félix pôde ver o pomo de adão do homem se movendo.
"Eu não sou um professor, sou um poeta," ele disse, retirando sua pequena algibeira e contando suas poucas moedas remanescentes. "Mas eu posso pagar."
"Comida," Gotrek disse. "E cerveja."
Nesse instante, a velha mulher estourou em lágrimas. Félix olhou para ela. "A velhota perdeu o controle," Gotrek disse.
O velho concordou com a cabeça. "Nosso Gunter desapareceu, de todas as noites, logo essa."
"Dê-me cerveja," Gotrek disse. O estalajadeiro recuou. Gotrek se levantou e caminhou até o local onde os mascates estavam sentados. Eles os observavam preocupadamente.
"Algum de vocês sabe algo sobre uma carruagem negra conduzida por quatro cavalos negros?", Gotrek perguntou.
"Você viu a carruagem negra?" um dos mascates perguntou. O medo era evidente em sua voz.
"Se vi? A maldita quase me partiu no meio." O homem engasgou.
Félix ouviu o som de uma caneca caindo. Ele viu o estalajadeiro se abaixar para pegá-la e enchê-la de novo.
"Vocês tem sorte então," o mais gordo e aparentemente mais bem sucedido mascate disse. "Alguns dizem que a carruagem é conduzida por demônios. Eu ouvi dizer que ela passa aqui na noite de Geheinmnisnacht todo ano. Alguns dizem que carrega crianças de Altdorf que são sacrificadas no Círculo Negro."
Gotrek olhou para ele com interesse. Félix não gostou da maneira como a coisa estava indo.
"Certamente, isso é só uma lenda." Ele disse.
"Não, senhor," o estalajadeiro gritou. "Todo ano nós ouvimos o som dela passando. Dois anos atrás, Gunter olhou lá fora e a viu, uma carruagem negra, igual a que você descreveu."
À menção do nome de Gunter, a velha começou a chorar novamente. O estalajadeiro trouxe um assado e duas grandes taças de cerveja.

"Traga cerveja para meu companheiro também:" Gotrek disse. O senhorio voltou para pegar outra taça.
"Quem é Gunter?", Félix perguntou logo que ele voltou. Houve outro gemido da velha.
"Mais cerveja," Gotrek disse. O senhorio olhou com espanto os garrafões vazios.
"Pegue o meu," Félix disse. "Agora, mein anfitrião, quem é Gunter?"
"E porque a velhota uiva cada vez que fala o nome dele?" Gotrek perguntou, limpando sua boca em seu braço sujo de lama.
"Gunter é nosso filho. Ele saiu para cortar lenha essa tarde. E ainda não voltou."
"Gunter é um bom garoto," a velha disse soluçando. "Como nós sobreviveremos sem ele?"
"Será que ele não está simplesmente perdido na floresta?"
"Impossível," o estalajadeiro disse. "Gunter conhece os bosques aqui como eu conheço os cabelos de minha mão. Ele deveria ter voltado horas atrás. Eu temo que ele tenha sido capturado por cultistas para ser sacrificado."
"Exatamente como a filha de Lotte Hauptmann, Ingrid, "o mascate gordo disse. O estalajadeiro lançou a ele um olhar de reprovação.
"Não quero ouvir contos sobre a noiva de nosso filho," ele disse.
"Deixe o homem falar," Gotrek disse. O mascate olhou para ele, agradecido.
"A mesma coisa aconteceu no ano passado, em Hartzroch, algumas milhas daqui. A dona Hauptmann foi ver sua filha pouco depois do pôr do sol Ela pensou ter ouvido um barulho no quarto da filha. A menina tinha sumido, levada por quem-sabe-que tipo de poder maligno de sua cama, em uma casa trancada. No dia seguinte, ouviram gritos e chôro. Eles encontraram Ingrid. Ela estava coberta de vergões, hematomas e em um estado terrível."
Ele olhou para eles, para ter certeza de que tinha sua atenção. "Você perguntou a ela o que aconteceu?" Félix disse.
"Sim senhor. Parece que ela foi levada por demônios, coisas da floresta, para o Círculo Negro. Ali, os cultistas esperaram com as criaturas malignas da floresta. Eles tentaram sacrificá-la no altar, mas ela conseguiu fugir de seus captores invocando o bom nome de Sigmar. Enquanto eles estavam atordoados ela fugiu. Eles a perseguiram mas não conseguiram alcançá-la."
"Isso é o que eu chamo de sorte." Félix disse em tom seco.
"Não há necessidade de zombar, herr doktor. Nós fomos até as pedras e encontramos todos tipos de pegadas no chão. Incluindo pegadas de humanos, feras e demônios de cascos fendidos. E um recém nascido de menos de um ano eviscerado, igual a um porco, sobre o altar."
"Demônios com cascos fendidos?" Gotrek perguntou. Félix não gostou do interesse em seu olhar. O mascate assentiu.
"Eu não me aventuraria no Círculo Negro essa noite:" o mascate disse. "Nem por todo ouro de Altdorf."
"Seria uma tarefa apropriada para um herói," Gotrek disse, olhando diretamente aos olhos de Félix. Félix ficou paralisado.
"Com certeza você não pensa..."
"Que melhor tarefa para um Trollslayer do que encarar esses demônios em sua noite sagrada? Poderia ser uma morte grandiosa."
"Poderia ser uma morte estúpida," Félix murmurou.
"O que disse?"
"Nada."
"Você vêm, não vêm?" Gotrek disse ameaçadoramente. Ele estava esfregando seu dedo na lâmina de seu machado. Félix notou que seu dedo estava sangrando de novo.
Ele assentiu lentamente. "Um juramento é um juramento."
O anão bateu em suas costas com tamanha força que ele achou que suas costelas iriam se quebrar.
"Às vezes, homenzinho, eu acho que há sangue anão em suas veias. Não que haja alguém da raça anciã disposto a um casamento interracial, é óbvio."
Ele se sentou e voltou a beber sua cerveja.
"É óbvio," seu companheiro disse, passando as mãos nas costas.

Félix tirou sua cota de malha de sua mochila. Ele reparou que o estalajadeiro, sua esposa e os mascates estavam olhando para ele. Seus olhos tinham algo que chegava próximo de uma admiração. Gotrek sentou-se perto do fogo, bebendo cerveja e resmungando em lingua anã.
"Você não vai com ele de verdade, vai?", o mascate gordo sussurrou.
Félix assentiu. "Por que?"
"Ele salvou minha vida. Eu estou em débito com ele." Félix achou melhor não mencionar as circunstâncias sob as quais Gotrek o salvou.
"Eu tirei o homemzinho de baixo dos cascos da cavalaria do Imperador." Gotrek gritou. Félix o amaldiçoou em silêncio. O Trollslayer tinha o ouvido de uma fera selvagen, assim como o cérebro de uma, ele pensou, continuando a colocar sua cota de malha.

"Sim. O homenzinho achou que seria inteligente expor seu caso para o Imperador com petições e marchas de protestos. O velho Karl Franz escolheu responder, com muita sensibilidade, com o ataque de sua cavalaria."
Os mascates começaram a se afastar.
"Um rebelde," Félix ouviu um deles murmurar.
Félix sentiu seu rosto corar. "Era uma taxa cruel e injusta. Um peça de prata por cada janela, na verdade. Para torná-la pior, todos comerciantes gordos emparedaram suas janelas e a mílicia de Altdorf foi enviada para abrir buracos nas laterais das casebres dos mais pobres. Tínhamos o direito de nos posicionar sobre o assunto."
"Há recompensa pela captura de rebeldes," o mascate disse. "Uma recompensa gorda."
Félix o encarou. "É claro, a cavalaria imperial não foi párea para o machado de meu companheiro," ele disse. "Que carnificina! Cabeças, pernas, braços para todos os lados. Ele subiu sob uma pilha de corpos."
"Aí eles chamaram os arqueiros," Gotrek disse. "Nós fugimos por um beco. Ser acertados de longe teria sido uma morte indecorosa."
O mascate gordo olhou para seus companheiros, então para Gotrek, então para Félix, então novamente para seus companheiros. "Um homem sensato se mantêm longe de política," Félix disse para o homem que falou da recompensa. "Sem ofensas, senhor."
"Não me ofendi," Félix disse. "Você está absolutamente correto."
"Rebeldes ou não," disse a velha, "Sigmar irá abençoá-lo, se você puder trazer meu pequeno Gunter de volta."

"Ele não é pequeno, Lise," o estalajadeiro disse. "Ele é um jovem robusto. Ainda assim, espero que você traga meu filho de volta. Eu estou velho e preciso dele para cortar lenha, calçar os cavalos e carregar os barris, e..."
"Sua preocupação paterna me emociona, senhor," Félix interrompeu. Ele colocou seu capacete de couro em sua cabeça.
Gotrek se levantou e olhou para ele. Ele bateu em seu peito com a palma da mão. "Armadura são para mulheres e os afeminados elfos," ele disse. "É melhor que eu a vista, Gotrek. Para que eu possa retornar vivo com o poema dos seus atos, conforme eu jurei que faria."
"Você tem razão homenzinho. E lembre-se que não é só isso que você jurou fazer." Ele se virou para o estalajadeiro. "Como fazemos para encontrar esse Círculo Negro?"
Félix sentiu sua boca ficar seca. Ele lutava para fazer suas mãos pararem de tremer.
Há uma trilha. Ela sai da estrada. Eu posso levá-los até ela. "Bom, " Gotrek disse. "Essa é uma oportunidade boa demais para perdermos. Essa noite irei pagar os meus pecados e adentrar os Salões de Ferro de meus pais. Se o Grande Grungni quiser."
Ele fez um sinal peculiar sobre seu peito com seu punho direito cerrado. "Vamos homenzinho, temos de ir." Ele caminhou até a porta.
Félix pegou sua mochila. Na porta, a velha o parou e colocou algo em sua mão. "Por favor, senhor," ela disse. "Leve isso. É um amuleto de Sigmar. Ele protegerá você. Meu pequeno Gunter usa um idêntico."
"E parece que ele o ajudou mesmo," Félix quase disse, mas a expressão na face da senhora o impediu de continuar. Nela havia medo, preocupação e talvez esperança. Ele ficou comovido.
"Farei o possível, frau."
Lá fora, o céu brilhava com a maligna luz verde das luas. Félix abriu sua mão. Nela havia um pingente de um pequeno martelo de ferro em um cordão. Ele deu de ombros e o colocou em torno do pescoço. Gotrek e o velho já estavam descendo pela estrada. Ele teve de correr para alcançá-los.

Capítulo 3

"O QUE VOCÊ acha que são essas coisas, homenzinho?" Gotrek disse, agachando-se até o solo. À frente deles, a estrada continuava na direção de Hartzroch e Bogenhafen. Félix se inclinou sobre o marcador de léguas. Ele estava na beira da estrada. Félix desejou que o estalajadeiro tivesse voltado em segurança para casa.
"Rastros," ele disse. "Indo para o norte."
"Muito bom, homenzinho. São os rastros da carruagem e eles devem levar até o norte, no Círculo Negro."
"A carruagem negra?" Félix disse.
"Creio que sim. Que noite gloriosa! Todas minhas preces foram ouvidas. Uma chance para eu me redimir e me vingar do porco que passou por cima de mim." Gotrek riu alegremente, mas Félix sentiu uma mudança em seu tom. Ele parecia tenso, como se suspeitasse que a hora de seu destino estivesse chegando e não seria nada bonito. Ele parecia extraordinariamente falador.
"Uma carruagem? Será que esses cultistas são nobres, homenzinho? O seu Império é tão corrupto assim?"
Félix concordou com a cabeça. "Eu não sei. O líder deles pode ser um nobre. O restante, a maioria devem ser pessoas comuns. Eles dizem que a mancha do Chaos penetra profundamente em lugares ermos como esse."
Gotrek sacudiu sua cabeça e pela primeira vez, parecia espantado. "Eu deveria lamentar pela loucura do seu povo, homenzinho. Ser tão corrupto a ponto que os próprios líderes se vendam aos poderes das trevas, é uma coisa terrível."
"Nem todos os homens são assim," Félix disse furioso. "É verdade que alguns buscam poder rápido ou os prazeres da carne, mas são poucos. A maioria das pessoas mantêm a fé. De qualquer forma, as raças anciãs não são totalmente puras. Eu já ouvi contos de exércitos inteiros de anões dedicados aos poderes da ruína."
Gotrek deu um grunhido irritado e cuspiu no chão. Félix apertou com força o punho de sua espada. Ele se perguntou se não foi longe demais com o anão.
"Você está correto:" Gotrek disse, sua voz era suave e fria. "Mas não gostamos de falar sobre tais coisas. Nós juramos guerra eterna contra as abominações que você mencionou e seus mestres negros."
"Assim como meu povo. Nós temos nossos caçadores de bruxas e nossas leis." Gotrek concordou com a cabeça. "Seu povo não entende. Vocês são fracos e decadentes e vivem muito longe da verdadeira guerra. Eles não compreendem as terríveis coisas que roem as raízes do mundo e procuram a destruição de todos nós. Caçadores de bruxas? Hah!". Ele cuspiu no chão. "Leis! Há somente um meio de enfrentar a ameaça do Chaos."
Ele brandiu seu machado com convicção.

Capítulo 4

ELES MARCHARAM INCANSAVELMENTE pela floresta. Acima, as luas brilhavam febrilmente. Morrslieb estava se tornando cada vez mais brilhante, e agora, sua luz verde manchava o céu inteiro. Um neblina leve havia se reunido e o terreno pelo qual se moviam era sombrio e selvagem. Rochas protuberavam acima da relva como pústulas de praga atravessando a pele do mundo.
Algumas vezes, Félix achou que estava ouvindo um bater de grandes asas acima deles, mas quando ele olhava para cima, via somente o brilho no céu. A neblina se espalhava de tal forma, que parecia que eles estavam caminhando pelo leito de algum mar infernal.
"Há algo de errado nesse lugar," Félix concluiu.
O ar tinha um gosto ruim e os cabelos de sua nuca estavam eriçados o tempo todo. Ele se lembrou de uma vez quando era um menino em Altdorf, estava na casa de seu pai e observava o céu escurecer com núvens ameaçadoras. Quando então veio a mais poderosa tempestade que sua memória se lembra. Agora, ele revivia o mesmo sentimento de antecipação. Haviam forças poderosas se reunindo ali perto, ele tinha certeza. Ele se sentiu como um inseto rastejando sobre o corpo de um gigante, que poderia acordar a qualquer momento e esmagá-lo.
Até Gotrek parecia afetado. Ele havia ficado silecioso e nem sequer resmungava consigo mesmo, como ele sempre faz naturalmente. De vez em quando ele parava e fazia sinal para que Félix fizesse silêncio, então ele tentava sentir o cheiro do ar. Félix podia ver seu corpo completamente tenso, como se ele forçasse todos os nervos para capturar o menor traço de qualquer coisa. Então eles continuavam a se mover. Os músculos de Félix todos retesados de tensão. Ele desejou que não estivesse ali. "Com certeza," ele pensou consigo mesmo, "minha obrigação com o anão não significa que eu deva encontrar a morte certa. Talvez eu possa fugir pela neblina."
Ele rangeu os dentes. Ele sempre se orgulhou de ser um homem honrado, e o débito que ele devia ao anão era verdadeiro. O anão arriscou sua vida para salvá-lo. Se bem que naquela época, ela não sabia que Gotrek procurava a morte, buscando-a como um nobre busca uma bela dama. Mas ainda assim, ele tinha obrigação para com ele.
Ele se lembrou da tumultuada noite de bebedeira na Taverna do Labirinto, quando eles fizeram uma jura de sangue, um curioso ritual anão e ele concordou em ajudar Gotrek em sua busca.
Gotrek queria que seu nome fosse lembrado e seus feitos fosse recordados.
Quando ele descobriu que Félix era um poeta, o anão pediu para Félix acompanhá-lo. Naquela época, num ambiente camarada e no calor provocado pela cerveja, pareceu uma idéia explêndida. A busca pelo fim do Trollslayer daria a Félix um excelente material para um poema épico, que o tornaria famoso.
"Mal sabia eu," Félix pensou, "que aquilo levaria a isso. Caçar monstros na Geheimnisnacht." Ele sorriu ironicamente. Era fácil cantar façanhas em tavernas e salões, onde o horror só existia nas exclamações das pessoas que ouviam os contos. Aqui fora, entretanto, as coisas eram diferentes. Suas entranhas pareciam estar soltas e a atmosfera mórbida e opressiva faziam com que ele desejasse sair correndo e gritando.
"No entanto," ele tentou se controlar, "esse é um tema digno de um poema. Se eu puder viver para escrevê-lo."

O bosque se tornou mais profundo e denso. As árvores haviam tomado o aspecto de seres estranhos e retorcidos. Félix sentia como se elas estivessem o observando. Ele tentou se convencer de que essa sensação era uma fantasia, mas a neblina e a medonha lua somente estimulava ainda mais sua imaginação. Ele sentiu como se houvesse um monstro em cada sombra.
Félix olhou para o anão. O rosto de Gotrek estampava uma mistura de antecipação e medo. Félix pensava que ele era imune ao terror, mas agora ele percebeu que não era. Uma vontade feroz o levou a buscar sua destruição. Sentindo que sua própria morte poderia estar próxima, Félix fez uma pergunta que ele sempre teve medo de fazer...
"Herr Trollslayer, o que você fez pelo qual busca redenção? Que tipo de crime você cometeu?"
Gotrek olhou para ele, então ergueu sua cabeça e observou a noite. Félix viu os músculos grossos como cabos de seu pescoço se retorcerem como serpentes.
"Se outro homem me perguntasse isso, eu o mataria. Mas eu darei um desconto a sua juventude e ignorância, assim como pelo rito de amizade que fizemos. Pois se eu o matasse, eu estaria matando alguém de minha própria espécie. E isso é um crime terrível. E não devemos falar sobre crimes terríveis."
Félix sequer imaginava o tanto que o anão estava apegado a ele. Gotrek olhou para ele, como se esperasse uma resposta.
"Eu entendo:" Félix disse.
"Entende homenzinho? Entende mesmo?" A voz do trollslayer era tão dura quanto pedras se quebrando.
Félix sorriu com pesar. Naquele momento ele viu o abismo que separava o homem de um anão. Ele nunca iria entender esses estranhos tabus, sua obsessão por juramentos, ordem e orgulho.
Ele não conseguia conceber algo que pudesse fazer com que o trollslayer buscasse sua própria sentença de morte.
"Seu povo é muito cruel consigo mesmo," ele disse.
"E o seu é muito tolerante," o trollslayer replicou. Eles ficaram em silêncio. Ambos foram surpreendidos por uma risada silenciosa e louca. Félix se virou, colocando sua espada em posição de guarda. Gotrek ergueu seu machado.
Além da neblina, algo se movia. Parece já ter sido um homem, Félix concluiu. A silhueta ainda estava lá. Era como se algum deus insano tivesse colocado uma criatura demoníaca perto do fogo até que sua pele fosse tostada e arrancada, e então deixada para ficar com essa nova forma abominável.
"Essa noite nós dançaremos," ela disse, em uma voz aguda que não tinha qualquer sinal de sanidade. "Dançaremos e nos tocaremos."
Ela estendeu sua mão suavemente para Félix e acariciou seu braço. Félix recuou em horror, quando dedos que pareciam grandes larvas subiam em direção a seu rosto.
"Essa noite, na pedra, nós dançaremos, nos tocaremos e nos esfregaremos." Ele agiu como fosse abraçá-lo. Sorriu, mostrando dentes curtos, porém afiados. Félix não se movia. Sentiu-se como um espectador, distanciado do evento que estava acontecendo. Ele se afastou e colocou a ponta da espada contra o peito da coisa.
"Não chegue mais perto," Félix avisou. A coisa sorriu. Sua boca, parecia ter ficado maior, mostrando mais dentes afiados. Seus lábios se afastaram até a parte anterior do rosto, mostrando uma gosma úmida e a mandíbula inferior do rosto se abria como se fosse a boca de uma cobra. Ele avançou contra a espada, até que uma mancha de sangue brilhasse em seu peito. Ele deu um riso estúpido e gorgolejante.
"Dançaremos, tocaremos, esfregaremos e comeremos.", ele disse, e com rapidez desumana, escorregou pelo lado da espada e saltou em direção a Félix.
Ele era rápido, mas o Trollslayer era mais. No meio de seu salto, o machado acertou seu pescoço. A cabeça rolou para dentro da noite, um jato vermelho começou a jorrar.
Isso não pode estar acontecendo, pensou Félix.
"O que era aquilo? Um demônio?" Gotrek perguntou. Félix podia ouvir a excitação em sua voz. "Parece que já havia sido humano." Félix disse. "Deve ser um daqueles que foram contaminados. Aqueles marcados pelo chaos. Eles são abandonados ainda bebês."
"Esse falava sua língua."
"Às vezes, a maldição não se manifesta até que eles fiquem mais velhos. Os parentes acham que eles estão somente doentes e os protegem até que eles consigam fugir para as florestas e desapareçam."
"Sua raça protege tais abominações?"
"Costuma acontecer. Nós não falamos sobre isso. É difícil se voltar contra pessoas que você amou, mesmo se elas se tornem diferentes."
O anão o encarou com descrença, então sacudiu sua cabeça. "Tolerantes," ele disse. "Tolerantes demais."

Capítulo 5

O AR ESTAVA PARADO. Alguma vezes, Félix pensou ter sentido alguma presença se mover nas árvores em torno dele e ficou paralisado de nervos, perscrutando pela neblina, procurando por sombras que se movem. O encontro com o contaminado o trouxe novamente ao perigo da situação. Ele sentiu dentro de si uma imensa fúria e medo.
Parte da fúria era direcionada a si mesmo, por sentir medo. Ele sentiu-se enojado e humilhado. Ele concluiu que o quer que aconteça, ele não repetiria esse erro, ficar parado como uma ovelha esperando ser morta.
"O que foi isso?" Gotrek perguntou. Félix olhou para ele. "Não consegue ouvir homenzinho? Escute! Parece um cântico."
Félix se esforçou para ouvir o som, mas não conseguiu ouvir nada. "Estamos perto agora. Muito perto."
Eles ficaram em silêncio. À medida que se arrastavam, mais Gotrek se tornava cauteloso e deixaram a trilha, usando a longa grama como cobertura. Félix se juntou a ele.
Agora eles podiam ouvir o cântico. Ele soava como se estivesse vindo de um grande número de gargantas. Algumas das vozes eram claramente humanas, outras eram mais rudes e bestiais. Haviam vozes masculinas e femininas misturadas sob a batida rítmica e lenta de tambores, o toque de címbalos e flauta, sem harmonia.
Félix somente conseguiu distinguir uma única palavra, repetida várias vezes até que ela ficasse clara em sua mente. A palavra era "Slaanesh"...
Félix estremeceu. Slaanesh, o senhor das trevas, senhor dos prazeres indizíveis. Era um nome que trazia as piores e mais profundas depravações. Era um nome sussurrado em antros de drogas e casas de vício em Altdorf por aqueles que buscavam prazeres além da compreensão humana. Era um nome associado com o excesso e a corrupção e o lado sombrio da sociedade imperial. Para aqueles que seguiam Slaanesh, nenhum estímulo era bizarro o bastante, nenhum prazer era proibido.
"A neblina nos esconderá," Félix sussurou para o Trollslayer.
"Shhh! Fique quieto. Devemos nos aproximar."
Eles avançaram vagarosamente. A grama longa e molhada se agarrava ao corpo de Félix, logo ele estava encharcado. Mais adiante, eles podiam ver a luz de uma fogueira e um cheiro enjoativo e doentio de incenso invadia todo o ar. Ele olhou ao redor, desejando que ninguém o tivesse visto e se atirasse para cima dele. Ele sentiu-se totalmente exposto.
Eles avançavam centímetro por centrímeto. Gotrek arrastava seu machado ao seu lado e sem querer Félix tocou sua lâmina com os dedos. Ele se cortou e se segurou para não gritar.
Eles chegaram à beira da grama longa e se viram observando um círculo de seis pedras esculpidas com formas obscenas, no meio das quais havia uma laje monolítica. As pedras brilhavam com o verde de algum tipo de fungo luminoso. No topo de cada uma delas, havia um braseiro, que liberava nuvens de fumaça. Feixes da luz verde e pálida da lua iluminavam a cena infernal.
Dentro do círculo, seis humanos dançavam, mascarados e vestindo longas capas. As capas estavam jogadas sobre os ombros, revelando corpos nus, tanto homens quanto mulheres. Em uma mão, os dançarinos seguravam címbalos de dedo, que batiam, e na outra mão eles carregavam varas de bétula, com as quais batiam no dançarino em sua frente.
"Ygrak tu amat Slaanesh!" eles gritavam.
Félix podia ver que alguns dos corpos estavam marcados com feridas. Os dançarinos pareciam não sentir dor. Talvez fosse o efeito narcótico do incenso.
Em torno do círculo de pedra, estavam figuras de horror. O batedor dos tambores era um homem imenso com a cabeça de um cervo e pés de casco fendido. Próximo dele, estava sentado um flautista com a cabeça de cachorro e mãos de dedos com ventosas. Um grande multidão de homens e mulheres contaminados se contorciam no chão ali perto. Alguns dos corpos estavam sutilmente deformados: homens altos com cabeça minúsculas; mulheres baixas e gordas com três olhos e três seios. Outros, era quase impossível reconhecer que já tenham sido humanos. Eles tinham o corpo coberto de escamas de cobra e bestas com cabeça de lobo, misturados com seres que tinham dentes em excesso e mais de uma boca no rosto, além de outros orifícios. Félix respirava com dificuldade. Ele observava tudo com medo crescente...
Os tambores soaram mais rápido, o cântico rítmico aumentou seu compasso, a flauta ficou mais alta e mais desarmônica, e os dançarinos ficaram mais frenéticos, batendo em si mesmo e em seus companheiros até que vergões com sangue se tornavam visíveis. Então, houve uma batida de címbalos e tudo ficou em silêncio.
Félix pensou que havia sido notado e ficou congelado. A fumaça do incenso encheu suas narinas e parecia amplificar todos seus sentidos. Ele se sentiu mais distante e disconectado da realidade. Ele sentiu uma dor aguda em sua lateral. Ele ficou surpreso ao perceber que Gotrek havia lhe dado uma cutuvelada nas costelas. Ele estava apontando para algo além do círculo de pedra.

Félix se esforçou para ver o que surgia na névoa. Então, ele percebeu que era a carruagem negra. Derrepente, no silêncio dominante ele ouviu a porta dela se abrir. Ele segurou sua respiração e esperou para ver o que iria surgir.
Um figura pareceu tomar forma na névoa. Era alta, usava máscara e vestia vários mantos de cores pastéis. Se movia com uma autoridade plácida e seus braços carregavam algo envolto em tecido brocado. Félix olhou para Gotrek, mas ele estava observando o desdobramento da cena com atenção fanática. Félix se perguntou se o anão havia perdido sua coragem nesse momento fatídico.
O recém-chegado se aproximou do círculo de pedra.
"Amak tu amat Slaanesh!" ele gritou, levantando seu pacote para o alto.
Félix conseguiu ver que era uma criança, mas se estava viva ou morta ele não conseguia dizer.
"Ygrak to amat Slaanesh! Tzarkol taen amat Slaanesh!" a multidão respondeu em êxtase.
O homem encapuzado observou as faces ao seu redor, e pareceu para Félix que o estranho olhou diretamente para ele, com seus olhos calmos e castanhos. Ele se perguntou se o mestre dos cultistas sabia que eles estavam ali e estava brincando com eles.
"Amak tu Slaanesh!" o homem gritou em voz alta e clara.
"Amak klessa! Amat Slaanesh!" respondeu a multidão. Estava claro para Félix que algum ritual maligno havia começado. Enquanto o rito progrediu, o mestre dos cultistas se aproximou do altar com lentos passos cerimoniais. Félix sentiu sua boca ficar seca. Ele lambeu seus lábios. Gotrek observava os eventos como se estivesse hipnotizado.
A criança foi colocada no altar com uma estrondosa batida de tambores. Agora, cada um dos seis dançarinos ficaram ao lado de um pilar, pernas em volta dele, se esfregando na pedra sugestivamente. Enquanto o ritual progredia, eles se agachavam até o chão, agarrados no pilar com movimentos lentos e sinuosos.
De dentro de suas vestes, o mestre retirou uma longa faca de lâmina ondulada. Félix se perguntou se o Anão iria fazer algo. Ele mal conseguia continuar olhando.
Lentamente, a faca foi erguida acima da cabeça do cultista. Félix se esforçou para olhar. Um presença sinistra pairava sobre a cena. Neblina e incenso pareciam se misturar, coagulando e congelando, e dentro dessa nuvem mista, Félix pensou ter visto uma forma grotesca e retorcida começar a se materializar. Félix não podia mais suportar a tensão.
"Não!" ele gritou.
Ele e o Trollslayer saíram da mata e marcharam ombro a ombro em direção ao círculo de pedra. No início, os cultistas pareceram não terem os percebido, mas finalmente, o rufar demente de tambores parou, o cântico se encerrou e o mestre dos cultistas se virou e os encarou, espantado.

Por um momento, todos ficaram olhando. Ninguém parecia entender o que estava acontecendo. Então, o mestre do culto apontou sua faca para eles e gritou: "Matem os intrusos!"
Todos avançaram como uma onda. Félix sentiu algo puxar sua perna seguido de uma dor aguda. Quando ele olhou, ele viu uma criatura, metade mulher e metade serpente, mordendo seu tornozelo. Ele a chutou, libertando sua perna e atravessando-a com sua espada.
Seu braço sentiu o choque quando a lâmina acertou ossos. Ele começou a correr, seguindo o vácuo de Gotrek que estava dilacerando tudo em seu caminho na direção do altar. O poderoso machado de duas mãos subia e descia em ritmo frenético e deixava uma trilha de ruína rubra em seu caminho. Os cultistas pareciam drogados e lentos para reagir, no entanto, assustadoramente, eles não mostravam medo. Homens e mulheres, contaminados e normais, se jogavam para cima dos intrusos sem se preocuparem com suas próprias vidas.

Félix cortava e atravessava todos que chegavam perto. Ele estocou com a espada, sob suas costas, direto no coração de um homem com cabeça de cachorro que saltou sobre ele. Quando ele tentou libertar sua lâmina, uma mulher com garras e um homem com a pele coberta de muco saltaram sobre ele. O peso de ambos o desequilibrou, jogando-o no chão.
Ele sentiu as garras da mulher arranharem seu rosto enquanto ele colocava seu pé sobre o estômago dela e a empurrava para cima. O sangue dos arranhões escorreu sobre seus olhos. O homem caiu feio mas saltou para alcançar sua garganta. Félix procurou por sua adaga com sua mão esquerda enquanto segurava o pescoço do homem com sua mão direita. O homem se contorcia. Ele era difícil de segurar por causa de sua pele lodosa. Suas próprias mãos alcançaram a garganta de Félix enquanto ele se esfregava contra Félix, arfando de prazer.

A escuridão ameaçou subjugar o poeta. Seus olhos começaram a ver estrelas. Ele sentiu uma vontade irresistível de relaxar e deixar-se ser engolido pelas trevas. Em algum lugar distante dali, ele ouviu os gritos de guerra de Gotrek. Com um esforço de vontade, Félix puxou sua adaga para fora de sua bainha e a enterrou nas costelas de seu agressor. A criatura enrijeceu-se e sorriu, revelando dentes alinhados, como de enguia. Ele deu um gemido de êxtase enquanto morria.
"Slaanesh, me leve," o homem gritou. "Ah, a dor, a amável dor!"

Félix se ergueu sobre seus pés ao mesmo tempo que a mulher com garras se levantava. Ele a acertou com sua bota, acertando direto na mandíbula. Houve um estalo e ela caiu para trás. Félix balançou sua cabeça para limpar o sangue de seus olhos.

A maioria dos cultistas se concentrou em Gotrek. Isso permitiu que Félix vivesse. O anão estava tentando abrir caminho na direção do centro do círculo de pedra. Enquanto ele se movia, a pressão de corpos contra ele o desacelerava. Félix podia ver que ele estava sangrando por dezenas de pequenos cortes.
A energia da ferocidade do anão era algo terrível de se ver. Sua boca espumava e vociferava enquanto ele picava e dilacerava membros e cabeças para todos os lados. Ele estava totalmente coberto de sangue coagulado e mesmo com a enorme ferocidade do anão, Félix viu que a luta estava indo contra Gotrek. Enquanto ele observava, um cultista encapuzado acertou o anão com um tacape e Gotrek caiu sob uma onda de corpos. Então, ele finalmente encontrou seu fim, pensou Félix, exatamente como desejava.

Fora da massa em combate, o mestre do culto recobrou sua compostura. Ele começou a cantar novamente e levantou sua adaga para o alto. A terrível forma que havia se formado na neblina pareceu se solidificar novamente. Félix teve a premonição de que se ela tomasse forma substancial, eles estavam perdidos. Talvez não só ele, mas todo o Império, Félix pensou, temendo o pior cenário possível. Ele não podia fazer seu caminho através dos corpos que rodeavam o Trollslayer. Por um longo momento, ele observou a lâmina curva refletir a luz de Morrslieb. Então, ele arremessou a sua adaga. "Sigmar guie minha mão," ele orou e arremessou. A lâmina voou perfeita e direta na garganta do sumo sacerdote, atingindo-o por trás da máscara, onde a carne estava exposta. Com um gorgolejo, o mestre do culto caiu para trás.
Um longo gemido de frustração preencheu o ar e a neblina pareceu evaporar. A forma dentro da névoa havia desaparecido. Como se fossem um, os cultistas observaram em estado de choque. Os contaminados se viraram para observá-lo. Félix se viu sob os olhares de dúzias de olhos insanos e hostis. Ele permaneceu imóvel e com muito, muito medo. O silêncio era sepulcral.

Então, houve um poderoso rugido e Gotrek emergiu do meio da pilha de corpos, surgindo por baixo com seus punhos do tamanho de um presunto. Ele se abaixou e recuperou seu machado de algum lugar. Ele agarrou seu cabo com as duas mãos e partiu novamente para a luta. Félix pegou sua espada e correu para se juntar a ele. Eles lutaram pela multidão até que ficassem um de costas para o outro.
Os cultistas, tomados pelo medo com a perda de seu líder, começaram a fugir dentro da noite e da neblina. Logo Félix e Gotrek ficaram sozinhos sob as sombras dos Círculo Negro.
Gotrek olhou para Félix malignamente e com seus cabelos encharcados de sangue. Sob a luz sinistra da cena, ele parecia demoníaco. "Me tiraram a chance de uma morte gloriosa, homenzinho."
Ele levantou seu machado ameaçadoramente. Félix se perguntou se ele ainda estava em frenesi berserk e se iria o partir ao meio independente dos laços que os uniam.
Gotrek começou a avançar lentamente em sua direção. Então, o anão sorriu. "Parece que os deuses reservaram um fim ainda mais glorioso pra mim."
Ele plantou o cabo do seu machado no chão e começou a rir até que lágrimas escorressem em sua face. Cansado de sua risada, ele foi até o altar e pegou o bebê. "Ele vive", ele disse.
Félix começou a inspecionar os cadáveres dos cultistas encapuzados. Ele retirou a máscara de um deles. O primeiro era uma jovem garota loira coberta de vergões e hematomas. O segundo era um jovem homem. Ele tinha um amuleto na forma de um martelo preso por uma corrente em torno de seu pescoço.
"Não acho que vamos voltar à taverna", Félix disse com pesar.

Epílogo

Um conto regional fala sobre um bebê encontrado nos degrais do templo de Shallya em Hartzroch. Ele estava envolto em um manto de lã de Suddenland ensopado de sangue, uma algibeira com algum ouro perto dele, e um amuleto na forma de um martelo estava colocado em seu pescoço. A sacerdotisa jurou que vira um carruagem negra partindo sob a luz da aurora.
Os nativos de Hartzroch contam ainda uma outra história, mais sombria, de como Ingrid Hauptmann e Gunter, o filho do estalajadeiro, foram mortos em um horrível sacríficio para os poderes das trevas. Os roadwardens que encontraram os cadáveres no Círculo Negro concordaram entre si que deve ter sido um ritual terrível. Os corpos pareciam ter sido cortados em pedaços por um machado empunhado por um demônio.


FIM

Miniaturas Félix e Gotrek